WISE HENRICK: ONTEM UM DESCONHECIDO… HOJE O MELHOR RAPPER DE CABO VERDE
- Wandara Nara
- 25 de mar. de 2021
- 3 min de leitura
“1 VOZ RIBA SILÊNCIO”, DIVULGADO A 19 DE MARÇO, TEM SIDO ALVO DE MUITOS ELOGIOS PELO RETRATO FEITO DA ATUALIDADE CABOVERDEANA, MAS TAMBÉM, POR “INCENDIAR” O RAP KRIOLO COM BARRAS DIRECIONADAS AOS POLÍTICOS E VEDETAS DO GAME.
Será que esta música teria o mesmo impacto se Wise Henrick não fizesse referência a Carta de Alforria de Hélio Batalha, a “Voz di Vozis” de Rapaz100Juíz, a “Metamorfose” de Batchart ou a Kiddye Bonz? Talvez. Mas é verdade que no Rap existe battles/vontade em mostrar-se liricamente, e cada um faz uso da sua liberdade para criar versos que geram debates.
QUANTOS CONHECIAM/SEGUIAM O TRABALHO DESTE JOVEM?
Esta música é um manifesto que todos devemos ouvir e refletir, até porque, pela situação que o País atravessa Wise diz que “culpado é bó”. Também, nota-se que, o povo ainda anda desunido e amante de uma hipocrisia sem medida.
Cantar a situação de Cabo Verde, isto Rapaz100Juiz já faz há décadas. Não me digas que não te lembras do clássico “CV DI HOJI EM DIA” e de outras obras deste grupo que tem a problemática do arquipélago na mira dos seus versos.
Por sua vez, Hélio Batalha, deste “Golpe de Estado”, tem alertado o povo sobre a passividade e a corrupção dos que governam o país. Em “Stado da Nação”, por exemplo, descreve a degradação de valores dentro das instituições, que em vez de proteger, atacam as pessoas.
E se compararmos hoje, em termos de números, os dois últimos trabalhos de Wise?

O “Palhaço” não veio contar piadas. Veio esfregar o dedo na ferida. Mas é verdade que, se o Wise apareceu com esta lírica hoje, é graças ao “finca pé” dos Rappers que vieram antes e fizeram o movimento ser ouvido e respeitado…
Não sei se o próprio Wise estava à espera que este som fizesse tanto “barulho”, até porque o beat usado não me parece ser original, o que não tira a originalidade com que ele apresentou nesta composição.
Como tinha dito, “1Voz Riba Silêncio”, não é nada com que o povo não tivesse ouvido durante estes tempos, mas, destaca-se pela forma com que o Rapper escreveu, estruturou e interpretou de forma nua e crua a realidade Crioula. Gostei da coragem e da analogia que ele fez nestes 7M36S de intervenção e a forma “Punchline” com que ele introduziu o trabalho dos rappers e a postura dos políticos na sua obra, fez com que a mesma, ganhasse mais expressividade.
Quando diz “li carta de alforria nu ta ratcha” talvez o Rapper observa que numa terra onde os privilegiados são os políticos corruptos, não há necessidade de sermos livres já que somos escravos dos poderosos que ditam as leis. Quem são os campeões de palavras e não de ações? Os políticos. Então "Nha povo dja sta farto mesmo ku fomi di palavras" é uma referência que as famílias precisam de comida não de promessas, principalmente quando o povo foi forçado a ficar em casa.
A imagem de Batchart e seu filho, em Metamorfose, associado a esta frase “Ko skeci fla bu puto ma Rua pali é prigo, tem caço bódi li katen barboleta y último bês ki bala perdi atchadu na coluna di um jovem ki hoji é paraplégico” é um verso intenso que pode ter inúmeras interpretações… Porque Batchart Pai está a tentar passar uma lição para o filho, de que talvez, nós podemos ser, ou podemos nos transformar numa versão melhor de nós mesmos independentemente do caos da sociedade e dos erros que podemos cometer. Papel de Pai.
Wise usou este trecho, não sei se para atacar, mas comparou com a criminalidade que afetam as 10 ilhas, e sem romantismo, quer mostrar o perigo que anda nas ruas das nossas cidades, só não sei se foi sensato da parte dele.
Agora o desafio está lançado, e como Wise já elevou a fasquia, teremos que esperar pelo próximo capítulo para ver o que ele vai produzir.
E como disse Hélio Batalha , para o povo, em reacção a este som:
"Nhos meste um rapper pá lembra nhos de problema ki sa Matano?"
No fim deixo esta pergunta…Qual é o artista que não quer ver o seu esforço recompen$ado?
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