BADIU DI FORAA: "TALVEZ SE NÃO FOSSE PELO EDDY DESIGUAL, AINDA NÃO TINHA UMA MÚSICA"
- Dìwé Marginal
- 31 de mar. de 2024
- 6 min de leitura
A 2ª edição de PRAIAPOETRYSLAM_COMPETIÇÃO DE POESIA FALADA_realizada nos dias 22, 23 e 24 Março, na WAREHOUSE, consagrou Igor Varela como o vencedor. Em êxtase, o jovem de 29 anos, aceitou prontamente responder ao TCHABANAVIZON para falar das aspirações que tem na música, e da caminhada no movimento SLAM, uma importante ferramenta de empoderamento individual que tem dado cartas em Cabo Verde graças ao contributo de Edyoung e JapPires.

"FOI UM PRIMO QUE ME APRESENTOU O HIPHOP, ATRAVÉS DE UM SOM DE SHADE B. SÓ EM FINAIS DE 2017 É QUE COMECEI A EXPLORAR O DOM DA POESIA, NO INÍCIO, ESCREVIA KIZOMBA E FUNÁNÁ"
A residir agora na Cidade da Praia, mas sem nunca esquecer da sua zona(ACHADA LOURA_Concelho de São Domingos) e da sua gente onde tira grande parte do aprendizado Crioulo, BADIU DI FORAA, que escrevia KIZOMBA e FUNÁNÁ, quer deixar a sua marca na música e ser lembrado como alguém que fez algo pela cultura.
Vale recordar que este trecho de poesia “ÊS TCHOMAN BADIU DI FORA CALÇA FEIO MÔ BOKA SINO”, fez Igor Varela se batizar artisticamente como BADIU DI FORAA quando entrou na página PENSAMENTOS, HISTÓRIAS E POESIAS, EM 2018.
NA 1ª EDIÇAÕ DE PRAIAPOETRYSLAM FICASTE EM SEGUNDO LUGAR DA COMPETIÇÃO. DESTA VEZ, O SEU NOME VEIO LOGO A SEGUIR A FRASE “ O CAMPEÃO É...” QUAL FOI A SENSAÇÃO?
Posso dizer que foi “SÁBI i DÓXI”. Contentamento por dentro e por fora, porque era algo que sonhava ouvir desde quando iniciei na POESIA FALADA. “Nha Korpu t´inda ta rapia”
NAQUELE MOMENTO, FEZ AINDA MAIS SENTIDO, PARTE DO REFRÃO DA TUA MÚSICA “KA BU DIZANIMA” QUE DIZ: “MAMA FLAN FIDJU KÔ DIZANIMA, KEL KÊ DI BÔ 1 DIA TA TCHIGA”?
SIM. Os meus Pais me ensinaram sempre a “SABER ESPERAR”, apreciar e ficar contente com a vez do próximo. Não podemos nunca desanimar ao ponto de não querer tentar mais, ou seja, as derrotas servem de lição para que nas próximas oportunidades estejamos mais confiantes e fortes.
DAQUI PARA A FRENTE, E POR O CAMPEÃO, ACHAS QUE TENS QUE AUMENTAR A FASQUIA A NIVEL DE LETRAS E ATUAÇÕES?
A nível dos meus textos é tentar manter ao máximo a minha essência, que é, para mim, o principal motivo pela qual muitos já me conhecem. Quanto à minha performance é procurar melhorar cada vez mais, principalmente, aprender a vencer aquela ansiedade que sinto antes das atuações.
FALAS DO EDYOUNG, MENTOR DO SLAM E OUTROS MOVIMENTOS CULTURAIS EM CABO VERDE, EM JEITO DE GRATIDÃO E APREÇO. IMAGINAS COMO ESTARIAS SE ELE NÃO TE “PUXASSE” PARA O SPOKENWORD?
Só tenho a agradecer ao Edyoung por tudo que ele já fez, e continua a fazer pelo Slam. Está sempre a chegar com convites e me incentiva, mostrando pontos onde posso corrigir, em especial, a forma como devo encarar o público. Sem estas orientações e crença, ainda estava só com os meus posts na internet.
E O JAP PIRES. QUAL É A LIGAÇÃO QUE TENS COM ELE?
É como gosto de dizer que tem o Chefe e tem o Rei(risos). O JaP Pires e o Edyoung são os chefes e os reis deste movimento. O JaP foi o primeiro que gravou o Slam em formato áudio aqui em Cabo Verde, é um grande amigo que encontrei nesta atividade e admiro muito a postura dele porque, é daqueles que mais dá concelhos e faz críticas construtivas.
A TUA ZONA, “ACHADA LOURA”, É UM QUADRO PARA DESCOBRIR, PINTAR NOVOS CAPÍTULOS E AFIAR A TUA VERTENTE ARTÍSTICA. TEM ALGUM CANTO ESPECIAL ONDE VIAJAS NAQUELE “CRIOULO DE FUNDO”, RELÍQUIA E PATRIMÓNIO DE CABO VERDE?
A minha zona e as pessoas de lá me apoiam de corpo e alma. Não é a toa que a minha inspiração vem quando estou “em casa”. O cheiro, o som da natureza, aquela calmaria, o sorriso das pessoas que mesmo vivendo no meio de tantas dificuldades, de alguma forma, me fazem sentir mais humano. Nós não temos nenhum património ou algo histórico, mas, por detrás da minha casa tem a vista para Praia e Cidade Velha e é lá que eu vagueio nos meus pensamentos. O meu crioulo vem destas trocas de vivências e experiências do quotidiano, e a cada palavra “diferente” que houver nos meus rascunhos começo a fazer perguntas.
E É, APARTIR DAÍ QUE SENTISTES MAIS GOSTO EM OUVIR PRINCEZITO, ELE QUE É UM DOS GRANDES NOMES DA CULTURA QUE USA O FINASSON PARA SE EXPRESSAR?
Tenho enorme respeito por Princezito. Acompanho todos os lançamentos porque gosto e me identifico com o artista e com a pessoa que ele é. Quando comecei a fazer FINASSON fui buscar ensinamentos nos trabalhos dele, aliás, um dos meus textos que mais fez sucesso “DENTU DI ARGUÉN KI É ARGUÉN” foi depois de ler o livro “MANUAL DI MUDJER” deste grande senhor da cultura.
NA CAPITAL_PRAIA_ ESTÁ O SEU “GANHA PÃO”. É VERDADE QUE NÃO CONSEGUES ESCREVER QUANDO LÁ ESTÁS?
Para quem gosta do silêncio, que nem eu, Praia é tudo mais rápido e barulhento. Na cidade grande é “pa busca bida” e já que não dá para ficar sentado por muito tempo tens que pensar enquanto caminhas. Eu gosto de apreciar o céu, de ver a lua, não tenho este privilégio na capital que nem “la fora”. Escrevo... mas só que muito pouco.
MAS CONSIDERAS QUE FOI ALI QUE OS TEUS TRABALHOS GANHARAM MAIOR PROJECÇÃO?
Claramente. A minha primeira aparição foi na Unicv, depois na Hotelaria e Turismo, e mais tarde pisei o palco do SLAM na AQVA onde as pessoas passaram a me conhecer.


CONFESSASTES NA ENTREVISTA NO “PODFLA” QUE O RAPPER BRASILEIRO CÉSAR MC É UMA DAS TUAS FONTES DE INSPIRAÇÃO, QUE COINCIDENTEMENTE USAVA UM CHAPÉU COMO FORMA DE LEMBRAR DA RESPONSABILIDADE E SERIEDADE NAS BATALHAS. E TU, QUAL É A TUA RELAÇÃO COM O CHAPÉU?
César Mc foi o primeiro que eu vi a fazer SLAM, no youtube. Nesse dia fiquei maravilhado com a forma que ele recitava poesia. Comecei a pesquisar e encontrei o Edyoung, depois o JaP Pires.
A história do chapéu tem uma ligação afetiva. O meu irmão foi o primeiro a me incentivar para fazer vídeos e partilhar com o público. No primeiro vídeo que fiz tinha o chapéu oferecido por ele, em 2016, e, desde então, nunca mais deixei de usar. É como que uma homenagem por ele ter apostado em mim. Acredito que é o meu talismã, pois, até tive que arranjar um igual porque o outro já estava muito desgastado.
CONSIDERAS-TE UM STORYTELLER?
Sim. Na nossa página PENSAMENTOS_HISTÓRIAS E POESIAS já publiquei várias histórias da minha autoria.
E COMO É QUE ESTÁ AQUELA IDEIA DE ESCREVER UM LIVRO?
Ainda só na minha cabeça. Quero apresentar algumas músicas primeiro para depois dar seguimento a esta ideia.
SOS MUCCI E ÍMAN ÀFRICA SÃO ARTISTAS QUE QUERES REALIZAR FEATURING. SENTES QUE ESTE MOMENTO ESTÁ PRÓXIMO?
Com o Íman África, que é o meu primo, já falamos e é só uma questão de começar a trabalhar. Em relação ao Mucci...penso que devo fazer mais para ser conhecido e estar no ponto para este FEAT, mas... se aparecer uma oportunidade antes “n´ta pega rixu” (risos)...
O ARTISTA EDDY DESIGUAL PATROCINOU A TUA MÚSICA ”HORA DE BAI” E TAMBÉM O VIDEOCLIP(O TEU 1º). QUE SIGNIFICADO TEM/TEVE ESTA ATITUDE PARA SI?
Foi um gesto que não tenho como pagar. Tudo aconteceu a partir de um concurso de talento promovido pela página Kriolu ku Kriola que eu fui o vencedor. Além de assumir com as despesas da musica e do clip, ele fez questão de estar presente nas filmagens para certificar que tudo ia correr dentro do planeado. Foi na minha zona, escreveu todo o roteiro e pensou tudo nos mínimos detalhes. Só tenho que lhe dizer, mais uma vez, OBRIGADO, porque talvez, se não fosse pelo Eddy Desigual, ainda não tinha lançado uma música.
A TUA LINHA DE CAMISA AJUDOU A PROJETAR O TEU NOME. TEREMOS MAIS O QUÊ DE BADIU DI FORAA NESTE CAMPO DE MARKETING?
Sim, ajudou bastante. As pessoas compraram muitas, tanto aqui em Cabo Verde, como em Portugal. O próximo passo será lançar “BADIA DI FORA”
NUMA GERAÇÃO DE MUSICAS FASTFOOD E DIANTE DA NECESSIDADE DE SER LIVRE E INDEPENDENTE, QUE AMBIÇÕES TEM O CAMPEÃO NO MUNDO DA MÚSICA?
Não é só sobre ser conhecido. Na musica quero ser lembrado, por isso, me vejo a fazer musicas que as pessoas ouvem, sentem e partilhem. Não é apenas por um instante, portanto, está de pé a promessa de fazer musicas que os meus pais possam escutar. Tenho interesse em ter o meu próprio espaço audiovisual para ajudar outros que querem divulgar arte nas ruas mas não têm condições. Vivo sem a ideia de seguir “modas”, pois, sei que é através da combinação da minha identidade e o desejo de atingir a excelência é que a minha arte será valorizada.
DE QUE FORMA ESTÁS A VER O SLAM E OUTRAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS QUE ESTÃO A SURGIR UM POUCO POR TODO O PAÍS?
Acredito que o SLAM está a ganhar grande destaque, e não é só na Praia, o que é bom. Esta segunda edição teve 30 candidatos para 20 vagas, o que indica que o movimento está a chegar em mais pessoas, prova disso, é o aumento do público no SPOKENWORD. Para mim, o SLAM já devia estar inserido em alguns festivais e, mesmo que não fosse por muito tempo, ia gerar um forte entusiasmo para aqueles que praticam. Também o RAP já atingiu uma dimensão gigante, nunca antes vista. Já não há tempo a perder e tudo depende da forma como trabalhamos com este instrumento daqui para a frente.
COMO É QUE GOSTARIAS DE SER LEMBRADO?
Como uma boa pessoa. Como alguém que fez algo bom pela nossa Cultura. Ser lembrado com alegria e elogios.
Comments