top of page
Buscar

TRAKINUZ: "O RAP ULTRAPASSA AS FRONTEIRAS DO EGO. NÃO ME CATIVA SER NÚMERO 1 OU O KING DO HHK"

  • Dìwé Marginal
  • 19 de jan. de 2022
  • 6 min de leitura
ree

COM O PRIMEIRO ÁLBUM A CAMINHO, TRAKINUZ é atualmente considerado por muitos, como um dos grandes nomes da atualidade do RAP/HipHop Crioulo. Desde “MUNDU NOVU”_MIXTAPE 2012_ e depois com o single de sucesso Antis Tudu Finda Ft Ivanilson Sanches_2014_ o coletivo foi ganhando espaços apresentando temáticas fortes para a sociedade. Com as participações em grandes espetáculos e as aparições nos mídia conseguiram rapidamente tocar o público e revelando cada vez mais como uma opção válida e séria no mundo da música. Prova disso é o EP SONHUZ TA CONTINUA VIVU(STKVV)_2018_ que trouxe uma dimensão muito profissional e deu continuidade à inegável ascensão deste grupo de Picos, onde dois sonhadores, Jailson Correia (JUST) e José Maria Veiga(JMV) começaram, em 2010, a escrever nas páginas do RAP.

Mas em meados de 2014, quando JMV saiu de Cabo Verde em busca de melhores condições, o grupo teve que lidar com algumas dificuldades, principalmente no que toca ao lado emocional. Com esta “separação” de oceanos, Jailson teve que aguentar, defender o nome e assumir o compromisso que já tinha sido criado lá atrás com os fãs e não só. Mesmo com os estudos e a vida na Cidade da Praia, o jovem persistiu na luta árdua pelo Sonho e com o trabalho chegaram as nomeações para CVMA de Artista Revelação no ano 2019 e Melhor HipHop em 2021, na música NU TA KONTINUA PA LI de Hélio Batalha, e muitas outras conquistas. Foi este um dos pontos de partida para uma pequena conversa descontraída com o apelidado “NHA TITIU”, representante e perspicaz líder de uma “FAMÍLIA”, ele que tem 28 anos e é licenciado em Tradução e Interculturalidades na Universidade Jean Piaget de Cabo Verde.


ree




"EU SÓ QUERO REALIZAR UM SONHO...


QUE É CANTAR, REPRESENTAR A


MINHA COMUNIDADE E OUVIR ESTA


FRASE QUANDO A MINHA MÃE ME


LIGAR: "FILHO, FIQUEI CONTENTE POR


TE VER HOJE NA TELEVISÃO"





"FOI ATRAVÉS DO RAP QUE, EM UM ANO, EU CONHECI TODAS AS 10 ILHAS DE CABO VERDE. TAMBÉM TIVE A FELICIDADE DE RIMAR EM PALCOS NO BRASIL, NA FRANÇA, SUIÇA, EM ESPANHA, LUXEMBURGO E PORTUGAL"

NUMA ALTURA EM QUE TRAKINUZ DAVA PASSOS EM BUSCA DE AFIRMAÇÃO NO RAP, JMV, UM DOS FUNDADORES E PARCEIROS DA EQUIPA, TEVE DE EMIGRAR. CONSEGUES DESCREVER ESTE MOMENTO E COMO TEM SIDO SUPORTAR OS DESAFIOS?


A Viagem do JMV foi um momento delicado e sensível para mim, porque muito antes da música, eu e ele criamos um laço de irmandade. Inclusive foi graças a ele que eu estou no mundo do RAP, já que ele é o responsável por me apresentar os RAPPERS que acabaram por ser as minhas influências.

Enquanto eu dava mais a cara, manifestava como o mais sonhador, o que mais queria voar… o JMV era mais "PÉ NA TXÓN, o mais sensato, então por isso, tínhamos um equilíbrio espetacular.

No início, tanto eu como ele, pensávamos que era possível manter este compromisso mas sabemos como é a emigração. Portanto, tive que me (re)adaptar para depender das minhas ideias e convicções porque sentimos que a conexão musical estava a enfraquecer. Hoje já é tudo mais prático e estou habituado mas, confesso que foi muito difícil.

ree

F O R I A N O S. P I C O S. L E I T Ã O G R A N D E.

CONSIDERAS QUE, DANDO SEMPRE A CARA PELO GRUPO, ACABAS POR TER UMA RESPONSABILIDADE ACRESCIDA?


CLARAMENTE. Porque TRAKINUZ é muito mais que música, é muito mais que eu e JMV, é uma FAMÍLIA. Tenho pessoas que sei que estão comigo, independentemente do grau da situação, pessoas fiéis que irão me defender com unhas e dentes, então, não posso dar ao luxo de desiludi-las ou PÔS ROSTO NA BURGONHA”. Por exemplo, eu antes de lançar as músicas, envio para este grupo para dar feedback porque quando dás à cara por uma CREW (equipa/ família) tudo que acontece de bom ou de mal pode beneficiar ou manchar toda a estrutura. O mais importante, no meio disto tudo, é que estamos sempre em sintonia.


POR ESTAR, NESTE MOMENTO, A ATUAR E A SER IMAGEM DE MARCA, ACHAS QUE O PÚBLICO E ATÉ MESMO AQUELES QUE SEGUEM TRAKINUZ DESDE SEMPRE, PODEM CONFUNDIR QUE ESTÁS A FAZER CARREIRA SOLO?


Sim, principalmente os que ouvem TRAKINUZ à bem pouco tempo e preocupam só com o presente, pensam mesmo que sempre fui sozinho. Mas tem aqueles que conhecem a história e sabem que TRAKINUZ é um grupo.


EM 2019, REVELASTES NA ENTREVISTA A TOPSHOW, QUE MÚSICA ERA O TEU REFÚGIO. SE AINDA DEFENDES ESTA CONFISSÃO, O QUÊ QUE O RAP TROUXE E O QUE ELE REPRESENTA PARA OS JOVENS FORIANOS?


Eu tive uma educação espetacular graças aos meus pais, mas digo sempre que a música, em particular o RAP, me ensinou imensas coisas. A personalidade que eu consegui criar é fruto de um consumo intensivo de RAP, que me ajudava quando o universo me dava sinais mas não entendia. Lembro-me que eu era um jovem muito revoltado com as situações da vida e se calhar me identifiquei logo com este estilo, pois, é nele que eu descarrego as minhas frustrações e raivas. Até me faltam adjetivos para dizer o que o RAP significa para mim, mas sei, que é um casamento perfeito não só para os FORIANOS mas para todos que acreditam num mundo mais justo e coerente.


O VOSSO TRAJETO CONTA COM GRANDES PARCERIAS QUE CONTRIBUÍRAM PARA ALAVANCAR A CARREIRA. O QUE TENS A DIZER SOBRE ISTO?


PLENAMENTE DE ACORDO. Mas, muito mais que parceria é fazer a parceria certa. Para mim, não basta trazer alguém que “está na moda” para alcançar novos públicos. Primeiro tenho que identificar com o trabalho do artista em questão, segundo deve existir um elo, e terceiro penso naquilo que o featuring pode acrescentar aquela música. Por norma, gosto de “guiar” as minhas parcerias: fazendo letras, criando melodias e “pedindo” certas vozes em determinados trechos, por exemplo. Desde Ivanilson, Thairo Kosta, Vando Alpina, Hélio Batalha, Ferro Gaita, entre outros que ajudaram na expansão e aprendizado, são colaborações que aconteceram de forma natural e genuína porque não sou precipitado.

DAS ATIVIDADES DE “ANGLOFONIA” E FRANCOFONIA” ATÉ AO DUETO COM FERRO GAITA. QUAL É A SENSAÇÃO DE TRABALHAR AO LADO DO ICÓNICO GRUPO DE CABO VERDE?


A nível de significado foi o ponto mais alto de todo este trajeto. Nunca pensei fazer, ainda mais neste género Rap (Drill), uma parceria desta dimensão nem nos meus melhores sonhos. Porque eu cresci ouvindo FERRO GAITA, e estar ao lado deles, sentindo aquela energia e LOVE que depositaram em "SIMA NU KRE" é inexplicável. Sou grato pela troca de experiências e isto é sinal de um crescimento considerável de TRAKINUZ.


EM "NU TA CONTINUA PA LI” TEM UMA FRASE DIRIGIDA PARA A TUA MÃE MAS QUE TAMBÉM PODE SE ASSOCIAR AO RAP. “BU FIDJU KRE SER REI”... É ESTA A AMBIÇÃO NO PANORAMA HHK?


(RISOS). REI é no sentido de ser DONO do lugar onde piso. REI para carregar os meus compromissos. REI em tomar conta do meu reinado que é a minha família. SÓ ISSO. Aliás, quem está próximo de mim, e vive no meu círculo sabe que não tenho pretensões em ser Nº1 ou KING DO RAP, porque isto não me cativa. A música, na minha perspetiva, é vida e ultrapassa as fronteiras do ego e de ser melhor rapper. Dificilmente vou entrar nesta disputa ou responder “boquinhas” sabes porquê? Porque eu só quero realizar UM SONHO, que é CANTAR, representar a minha comunidade e ouvir esta frase quando a minha Mãe me ligar: “FILHO, FIQUEI CONTENTE POR TE VER HOJE NA TELEVISÃO”. Esta é a minha visão.



ree

A "JOGADA" PARA A DIVULGAÇÃO DO SINGLE “NHA TITIU” FOI IMPACTANTE. DE ENTRE AS CRÍTICAS E FORÇAS RECEBIDAS, QUAL FOI A LIÇÃO QUE APRENDESTES COM OS FÃS E O QUE ESTE EPISÓDIO PROVOU?


FOI GIGANTESCO MESMO. Até que neste momento já me trocaram de nome, agora não é TRAKINUZ mas sim NHA TITIU. Basicamente aprendi duas coisas: A PRIMEIRA, e como disse anteriormente, tenho pessoas leais que irão me defender independentemente da dimensão do problema; A SEGUNDA é que existem pessoas extremamente insensíveis que não pensam nos danos que um comentário pode causar. Eu já sabia aquilo que estava a fazer, foi tudo planeado aos detalhes. Ainda assim, foram muitas energias negativas à volta deste episódio e opiniões profundamente destruidoras que podiam, perfeitamente, levar uma pessoa a cometer suicídio.


PRIMEIRO ÁLBUM A CAMINHO. O SENTIMENTO É O MESMO DE “STKVV”?


É a concretização de um sonho(mais um). Logicamente que com outra visão mas o sentimento é o mesmo. A mesma garra e vontade, a mesma sagacidade e sangue nos olhos porque quero ouvir as faixas daqui 10 a 15 anos e dizer “não mudaria nada neste som”. Vai ser um álbum à imagem de TRAKINUZ, jovem de fora que quer conquistar o seu lugar.


UMA PALAVRA PARA O ESTADO ATUAL DO RAPKRIOLO?


REFORMULAÇÃO.


NUMA PERSPECTIVA MAIS POLÍTICA, E APROVEITANDO O TEU CONHECIMENTO E VISIBILIDADE, QUE TIPO DE MUDANÇAS ACHAS QUE DEVEM SER FEITAS EM SÃO SALVADOR DO MUNDO


Por aquilo que acompanho, o Município tem estado a desenvolver a seu ritmo, à sua maneira. Mas falta dinamismo, sobretudo na parte da juvenil, e propostas credíveis para esta camada, porque, sem alternativas, acabam por sair e dar contributo em outras localidades.



DI PICOS PA UNIVERSO

ree
"TEMPORADA NA SUIÇA FOI UMA DAS ALTERNATIVAS QUE ENCONTREI PARA OBTER MEIOS DE FINALIZAR O ÁLBUM, UMA VEZ QUE, A SITUAÇÃO ESTAVA DIFICIL SEM TRABALHO E SHOWS"




Comments


Espaço Feedback

Obrigado

"O começo é a parte mais importante do trabalho" Platão

bottom of page