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PORTUGAL: CONHEÇA O BRASILEIRO QUE GANHA A VIDA FAZENDO FREESTYLE NO COMBOIO E SONHA VIVER DE RAP

  • Dìwé Marginal
  • 17 de set. de 2021
  • 4 min de leitura

    "OUVIA SEMPRE QUE O POBRE ESTAVA DESTINADO AO TRABALHO BRAÇAL. MESMO COM SONHOS, VIVIA A REALIDADE CRUEL QUE QUASE ME FEZ DESACREDITAR.O FREESTYLE ME DEU A POSSIBILIDADE DE VIRAR O JOGO E, POR ISSO, ENCARO  ESTA  ATIVIDADE COM MUITA SERIEDADE" 

WELLINGTON CINTRA, TAMBÉM CONHECIDO COMO GDM, PARTICIPOU DA ÚLTIMA EDIÇÃO DA FESTA DO AVANTE DEPOIS DE TER GANHO O CONCURSO DE BANDAS NOVOS VALORES, ORGANIZADO PELA JUVENTUDE COMUNISTA PORTUGUESA.


CIENTE QUE A ARTE É DIFÍCIL PARA QUEM VEM DA PERIFERIA, O JOVEM PROMETEU PARA SI MESMO, EM 2019, QUE IA VIVER DA MÚSICA(SONHO) DE ALGUMA FORMA PORQUE NÃO AGUENTAVA MAIS A OPRESSÃO E EXPLORAÇÃO DOS TRABALHOS TANTO DE BRASILEIROS COMO DE PORTUGUESES.



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WELLINGTON CINTRA

AKA GDM

BRASILEIRO (Goiás)

31 Anos

RAP e FREESTYLE


REFERÊNCIAS & INFLUÊNCIAS

RACIONAIS MC_SABOTAGE_MV BILL_ FACÇÃO CENTRAL_BLACK ALIEN_WU-TANG CLAN_CHARLIE BROWN JR_O RAPPA_PLANET HEMP


Encorajado pela família da ex-namorada, Wellington Cintra aceitou a proposta de viajar para a Europa. Foi em 2012 que saiu de Goiás, no Brasil, com 6€ no bolso rumo a Itália para perseguir O SONHO DE TODO O EMIGRANTE.


Em Mede, pequena cidade italiana, as coisas não correram como imaginava. Sem dinheiro e ilegal no país, o jovem brasileiro trabalhou algumas vezes no campo. Foram três anos de adversidades na região, e neste tempo, com o nascimento do filho, teve que recorrer à ajuda de associações da igreja para ter um sustento.


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Através de um contato, Wellington voltou a emigrar em 2015, desta vez para Portugal, onde mora há 6 anos. Na terra de Camões nada estava garantido, a não ser o tormento da clandestinidade. Sem grandes alternativas, o rapaz teve que encarar a venda de chocolate na rua e fazer limpezas. Numa dessas limpezas conheceu Marcão, guarda-redes brasileiro de futsal, que o indicou para uma empresa de lavagem de carros em Odivelas.

A ideia de trabalhar com brasileiros criou uma ilusão, pois pensava que conseguia ali uma oportunidade para se legalizar. Mas aos poucos percebeu que tinham conterrâneos e africanos há muito tempo lá, ganhando dinheiro, mas que nunca obtiveram contrato. Para ele, lavar carros não era de todo mau, porque o pouco que ganhava era bom para quem não tinha nada. Segundo ele, o que gerava revolta era o ambiente opressor e exploratório, onde o patrão só pensava em faturar e raramente preocupava com a documentação e saúde dos funcionários. “Lembro-me de almoçar várias vezes merenda e coca-cola, oferecidas pelo chefe, para que a produção não parasse”.


NO FINAL DE 2018, GDM foi passar o natal e o fim de ano em Itália, mas antes, conseguiu, depois de 7anos, gravar uma música. “OBSERVADOR” despertou nele aquele sonho de infância. “Era tanta coisa que eu tinha para dizer, mas me sentia travado. Depois de ouvir o som editado e masterizado foi como que eu renasci”


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Voltando para Portugal, em Janeiro de 2019, prometeu. "ESSE ANO VOU VIVER DA MÚSICA DE ALGUMA FORMA PORQUE TENHO QUE SAIR DESSA ESCRAVATURA.

Foi então que começou a frequentar as várias festas em Lisboa, onde tinha o microfone aberto, com o único propósito… CANTAR.


O INÍCIO DO FREESTYLE


Em agosto de 2019, ainda a lavar carros, só que em Alcântara, Wellington começou timidamente rimando na linha vermelha e verde do metro por influência do Tio Góis…


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Um brasileiro também de Goiás, que já fazia apresentações nas carruagens, e com uma história parecida que se tornou num grande aliado. No trabalho, das 10h até às 18h, GDM aguentava as piadas racistas de portugueses sobre brasileiros e africanos e ainda encontrava forças para improvisar rimas das 20 às 22hrs.


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"DEUS, FAÇA COM QUE MINHAS PALAVRAS NÃO CAEM EM VÃO AQUI NESTE LUGAR"

DO METRO PARA O COMBOIO


Depois de ter sido despedido, GDM percebeu que era o momento de investir de corpo e alma no Freestyle. Com uma nova rotina e com a autoestima em alta, com o dinheiro entrando e com a sensação de liberdade, o jovem só queria continuar. Em Setembro do mesmo ano(2019), quiseram desafiar as habilidades e foram para a linha de comboio de Cascais. Desde então, a vida dele e do Tio Góis nunca mais foram as mesmas.


MISSÃO


Enfrentando olho no olho as pessoas, ao mesmo tempo que ganhava visibilidade e popularidade, as palavras ganharam uma dimensão gigante no quotidiano das diferentes classes. “Sinto que ofereço uma esperança porque vejo aquela expressão de cansaço, principalmente depois de um dia de trabalho. Fico feliz sempre que consigo “arrancar” um sorriso dos viajantes do comboio”. “Não é só pelo dinheiro. Eu abordo temas importantes como o racismo, valorização do ser humano, amor-próprio e em troca recebo diariamente mensagens de pessoas que dizem que minhas expressões serviram de alento”


PRECONCEITO E PERSEGUIÇÃO


“Nunca foi fácil. Desde o início vi pessoas guardando a carteira quando entro na carruagem. Ainda marginalizam os que vestem e fazem coisas fora do padrão” desabafa, acrescentando que “Tem sempre um ou outro que te manda “calar a boca”, “vai para a tua terra”, e às vezes isso abala-me". Mas o sonhador não rende, nem mesmo quando é abordado pelas autoridades e tratado como gente sem propósito. "Tem um policial que foi me seguir no Instagram porque ele acredita que vendo drogas na linha. “UM DIA EU TE PEGO ZUKA”


SENSAÇÃO DE LIBERDADE


Hoje, com 31 anos, o MC trabalha para si e pode fazer o horário que quiser. Lembra que de tanto "apanhar" da vida e ser obrigado a cancelar a tão ambicionada felicidade, é hora de alimentar a ambição daquela criança que o sistema quer ver falhar. "Tenho um palco para atuar e agradeço a Deus porque estou VIVENDO".


SONHO DE VIVER DO RAP


O processo da improvisação, psicologicamente, é muito desgastante. Por isso mesmo, o Rapper acredita que esta jornada, apesar de gratificante, seja uma ponte para alcançar novos horizontes. Atualmente, conta com algumas músicas lançadas nos suportes digitais. "Atrás do meu Sonho" gravada no Katana Produções, "Aos quase 30"e "Sistema em Choque" produzidas pela GRIOT LAB que é uma gravadora independente que surgiu da fusão com outros brasileiros que acreditam que é possível trabalhar no que se ama. O próximo passo, adianta GDM, é lançar um EP.


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GDM na Festa do Avante_ Seixal_2021












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