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ISABEL EUNICE: "NÓS MULHERES SOMOS MAIS FORTES DO QUE PENSAMOS"

  • Wandara Nara
  • 28 de mar. de 2024
  • 5 min de leitura


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Isabel Eunice, de 36 anos, é LICENCIADA em INFORMÁTICA e GESTÃO pela UNIVERSIDADE JEAN PIAGET(2006-2010). Por querer estabilidade a longo prazo, e depois de uma experiencia de 5 meses, em 2016, a jovem decidiu sair de cabo verde no ano seguinte para viver, em definitivo, nos estados unidos, onde hoje é cidadã. Consciente das poucas oportunidades que existem no arquipélago, para jovens que ambicionam por algo mais, a jovem de São Salvador do Mundo arriscou mesmo sabendo que o diploma conquistado podia não servir muito na terra do TIO SAM. Para dar sequência à saga de contar histórias de “pessoas comuns”, TCHABANAVIZON desafiou Isabel a participar de uma pequena entrevista sobre lutas e desafios de ser Mulher e Mãe “longe de casa”. Ela que tem como inspiração pessoas que “brigam” para serem independentes, como é o caso da irmã Hirondina(falecida) e a vizinha e professora Deolinda.


CONTA-NOS DA TUA BASE FAMILIAR E NO QUE ESTA AJUDOU PARA O TEU CRESCIMENTO COMO PESSOA, E COMO MULHER?


Complicado. Perdi a minha Mãe quando tinha 7anos, e por isso, passei a viver sob a responsabilidade da minha irmã Hirondina e do meu pai. Homens com a idade do meu Pai na nossa cultura não preocupavam muito com os nossos sentimentos quanto mais olhar para nós como “futuras mulheres”. Já a minha irmã sempre me preparou, uma vez que, nos nossos costumes, pelo menos no meu tempo, deviam se preparar “fidju fêmea pa bai casa d´ómi”. Existia aquele cuidado de ensinar coisas para que a familia não ficasse mal falada. Lembro, que quando a minha irmã soube que eu estava a gostar de um rapazinho, comecei a lavar toalhas de mesa, calças de ganga e roupas de cama. Ela me disse “já que queres atrevimento vou te preparar para a casa do homem”(risos).

 

SE TIVERES QUE COMPARAR A EDUCAÇÃO QUE TIVESTES E A EDUCAÇÃO DE AGORA, QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS?


Antes existia um controlo e um domínio maior sobre as crianças. Tudo que era feito os pais sabiam rapidamente, porque até os vizinhos ajudavam na criação. Hoje temos um mundo mais aberto e, de certa forma, a revolução tecnológica trouxe muitas complicações. Neste momento, educar deve ser à base de confiança, de proximidade, e sem perder os valores como o respeito, humildade,  e acreditar na esperança.

 

AINDA EXISTEM MUITAS MÃES CABOVERDEANAS (de meninos) QUE SE VANGLORIAM COM ESTA EXPRESSÃO. NHÔS MARRA NHÔS CABRA PAMODI MI NHA BÓDI N´TA DEXAL SOLTO. QUE OPINIÃO TENS SOBRE ESTA IDEIA, SENDO QUE ÉS MÃE DE 3 RAPAZES, E QUE TIPO DE (IN)FORMAÇÃO QUERES PASSAR PARA ELES?


Para mim é inaceitável. Há que ter o respeito, pois, independentemente do género todos têm sentimentos. Ensino aos meus filhos a não fazerem aos outros o que não gostariam que lhes fizessem, por isso, educo os meus rapazes( o mais novo tem 1 ano) para serem independentes. Assim para que, as mulheres que possam vir a gostar sejam aquelas que complementam a vida e não para serem mãe deles. Acredito que é importante a troca de afetos, bem como o envolvimento de todos nas tarefas domésticas para que a família viva melhor.

 

E O QUE DIZER AQUELAS QUE AINDA VIVEM “PRESAS” NESTES TIPOS DE PENSAMENTOS/PRECONCEITOS? N´ka ta consigui pamodi mi é Mudjer, Kela é trabadju d´omi(...)


Se Deus nos deu esta missão, tanto de ser Mãe de Homens como de Mulheres, é porque não somos fracas. Tudo depende da nossa determinação e força de vontade. Nós mulheres somos muito mais fortes do que pensamos

 

MAIS DO QUE PROCURAR CONDIÇÕES MELHORES, TEM OUTRO FATOR QUE TE LEVOU A ENCARAR A VIDA NOS ESTADOS UNIDOS, MESMO COM UMA LICENCIATURA?


Pois. Emigrei para os estados unidos para atingir estabilidade a longo prazo, principalmente para os meus filhos. Fiz o curso em cabo verde, na àrea de informática e gestão (JEAN PIAGET_2006 a 2010), trabalhei na Câmara Municipal (picos) e depois saí para PRAIA prestar serviços na NOSI durante cinco anos. Entretanto, o projeto parou e tive que me (re)inventar. A minha formação me possibilitou exercer funções no Instutito Superior de Ciências Jurídicas, e foi ali que decidi tentar a vida nos Estados Unidos. Fiz uma experiência, em 2016,  de 5 meses e meio e gostei,e em 2017, decidi ficar. O propósito foi sempre “caçar” oportunidades que, em Cabo Verde, mesmo sendo formada, são escassas. Cheguei a ver muitos colegas a esperarem por eventuais propostas de emprego, e hoje, quando penso, digo que foi a melhor escolha  tanto na realizaçao pessoal,  como em termos de segurança e saúde.

 

SABENDO QUE A TUA GERAÇÃO TEVE MAIS E MELHOR ACESSO AO ENSINO, EM RELAÇÃO AOS TEUS PAIS, E QUE A EMIGRAÇÃO CONTINUA A SER O BALÃO DE OXIGÉNIO, É CERTO QUE NEM SEMPRE DÁ PARA CONTINUAR A FAZER O QUE SE FAZIA NO PAÍS DE ORIGEM MESMO COM CURSO. QUE EXPERIÊNCIAS É QUE OS ESTADOS UNIDOS JÁ OFERECEU À MENINA, MULHER E MÃE, QUE SAIU DI FORAPICOS, SÃO SALVADOR DO MUNDO?


"N´SAI DI FORA MAS FORA KA SAI DI MI. Nem quando mudei para capital nem agora que vivo nos Estados Unidos. Lembro quando estive na capital e ia só aos fins de semana para Picos... “n´ta staba sem sapato ta limpa tchitchero” sem nenhum problema.  E aqui, a mesma coisa, faço os meus trabalhos domésticos como antes, tenho o meu “binde” faço couscous , nossas comidas tradicionais sem me perder nas influências.

A NOSI, conhecida instituição de sonho, tanto pela missão e pelo salário, me abriu portas para o crescimento como profissional e pessoa mas eu queria mais. E quando viajei e comecei a trabalhar na fábrica, financeiramente, compensava. E com problemas com a língua, documentação, inicialmente, atuar na minha área de formação era complicado porque, além do diploma não servir, o custo para fazer o complemento era (e é) enorme.

Agora imagina uma Mulher_Mãe a chegar numa realidade incomparável aquela que estava habituada, com filhos e despesas?

 

COMO É QUE CONSEGUES CONCILIAR SER MULHER E SER MÃE NUM PAÍS COM INÚMEROS CASOS DE RACISMO?


Não é bem como muitos pensam. Maiores racistas são os próprios Caboverdeanos. Eu pessoalmente não sofri com isso. Para conciliar os dois deveres optei por trabalhar da noite até ao amanhecer. Assim, de manhã, tenho tempo livre para levar os filhos à escola ou hospital quando necessário e dormir. Passamos a tarde juntos, e à noite, já com a minha prima em casa, saio para a missão. Tento estar sempre presente e mantê-los em contato com a nossa cultura e transmiti-los os principais valores.


SENTES REALIZADA?


Sim. Um desafio grande mas compensador, pois, o objetivo era uma vida melhor. Tudo o que aconteceu no início: as preocupações por estar, na altura ilegal; adaptação de um dos meus filhos que veio de cabo verde e estudar; a batalha nos 7 anos de fábrica...etc... tudo isto teve de acontecer para eu aprender e me fortalecer. Agora estamos todos juntos, legais no país, e, recentemente fiz uma formação de assistente de enfermeiro que aqui chamam de CERTIFIED NURSE ASSISTANT(CNA) e trabalho com idosos. Também estou numa aula online em contabilidade e finanças, como teste, para ver se estou preparado para retomar os estudos.

 


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